sábado, 27 de julho de 2013

Um oásis no sertão: família encontra água e se torna independente

(Foto: Lírian Pádua)
Por Lírian Pádua*

A existência da indústria da seca foi confirmada na 12ª “Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida”, realizada entre os dias 10 a 24 de julho no Brasil. Durante o percurso entre os municípios Caracol e Jurema, que fazem parte das seis cidades do sertão do Piauí que estão no roteiro dos marchantes, uma realidade diferente da seca foi presenciada pelos voluntários. De um lado uma terra rica que produz diversos alimentos e é o sustento de uma família inteira e em menos de 200 metros uma propriedade mantém uma das tristes imagens da seca: um lago sem uma gota de água e com o chão completamente rachado.

A enorme discrepância foi vista no bairro Pitombeiras, em Caracol. A paisagem verde se destacou no meio das cores mortas do sertão. Alface, couve, tomate, pimenta, melancia e diversas outras frutas, verduras, legumes e até flores nascem do solo piauiense e formam um oásis. Os responsáveis pela abundância de nutrientes e vida na pequena propriedade é o casal Maria e José Argenaro Ribeiro Dias.

De acordo com Argenaro, o motivo de tanta abundância é devido a água. Há alguns anos ele cavou um poço e desde então tem plantado e sustentado a família com a produção da horta. Além do consumo próprio, Maria sai de bicicleta quase todas as manhãs para vender os alimentos de casa em casa nas comunidades vizinhas. “Nunca tivemos a ajuda do governo. Quando a água diminui, cavo mais fundo. Hoje a minha cisterna tem 11 metros de profundidade”, contou Argenaro, acrescentando que o irmão e o cunhado também encontraram água em suas propriedades e sobrevivem da agricultura.

Com o acesso à água, a família Ribeiro Dias se tornou independente. Segundo o membro da Ação Cearense de Combate à Corrupção e a Impunidade (Acecci), Francisco de Assis Soares, as mazelas da seca poderiam ser solucionadas com vontade política. “Existem alternativas simples de serem feitas, mas isso não interessa o poder público. No Nordeste não é interessante que o cidadão seja independente financeiramente, pois o político poderá perder um instrumento que ele utiliza para se eleger”, disse o participante da marcha. Sem água local, a população depende exclusivamente de caminhões pipa.

Para Francisco, um cidadão independente não venderá o voto. Já uma pessoa que necessita de ajuda governamental para sobreviver, pode ser mais facilmente influenciada com promessas políticas.

A alguns metros da propriedade de Argenaro há outras famílias que não têm acesso a água, a não ser através dos caminhões pipa que não tem periodicidade. No local havia um lago que hoje está totalmente seco e com o solo rachado.

Além da imagem triste da lagoa e da esperança das famílias no aguardo dos caminhões, outra situação chocou os voluntários da “Marcha Contra Corrupção e Pela Vida”. Os marchantes viram que em frente à lagoa há um poço perfurado. Porém, segundo os moradores, dele nunca saiu uma gota de água. 

Percebendo a situação de Caracol e de outras cidades visitadas durante a marcha, os marchantes organizam uma audiência pública a fim de expor os problemas do Nordeste e exigir ações do governo. “A constatação é de que o problema da seca não é seca climática em si, e sim a má gestão dos recursos públicos, a corrupção e a ineficiência administrativa. Foram encontradas obras abandonadas e má administradas que atestam que o problema da fome e da seca se dá por uma má gestão e ausência da boa governança”, descreveu o organizador da ONG Força Tarefa Popular, responsável pela marcha, Arimatéia Dantas, no ofício enviado às autoridades em convite para a reunião.

A audiência pública será na próxima terça-feira, 24 de julho, às 19h, em São Raimundo Nonato, último município do roteiro dos marchantes.

*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA - Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil.

Nenhum comentário:

ARQUIVO (NOTICIAS ANTIGAS)